Advert

some text

VIVA VILLA!


A música folclórica é a expansão, o desenvolvimento livre do próprio povo expresso pelo som.                                                                                         Villa-Lobos                    

    

   
Villa-Lobos fez do Brasil a inspiração primordial de toda sua obra. Apesar de flertar com diversas técnicas composicionais europeias, e claramente reconhecer-se influenciado por compositores do velho mundo, nunca deixou de inserir em sua música o seu país e cultura.    


   Um exemplo claro disso é a Ciranda No.4, baseada em duas melodias tradicionais do cancioneiro popular brasileiro: "O cravo Brigou com a Rosa", famosa melodia que dá nome à peça; e Sapo Cururu, melodia apresentada na parte intermediária da obra.



    Esta ciranda é estruturada na forma ternária ABA', onde A apresenta o tema "O Cravo brigou com a Rosa". Com forte aspecto percussivo e de toccata, nesta parte a melodia é exposta no topo de uma série de acordes em semicolcheias alternadas que criam movimento e uma sonoridade de cluster, influência de correntes estéticas da época como se vê no politonalismo de Stravinsky. 






    Após expor o tema uma única vez, o trecho culmina em uma escalada ascendente em fortíssimo para dar lugar à parte B da peça, que contrasta em caráter e sonoridade com a primeira. Saímos de uma sonoridade industrial para uma França impressionista e intimista; desta vez o tema é apresentado sem muita interferência e ouve-se na mão esquerda um acompanhamento que remete à rítmica brasileira. A melodia tradicional do Sapo Cururu é elaborada em um pequeno cânone na mão direita explorando os registros agudos do piano.

                                              


 As melodias do cancioneiro infantil foram amplamente utilizadas por Villa-Lobos, especialmente no repertório didático para o piano. Exemplo disto é a série "Cirandinhas" e o "Guia Prático", conjunto de peças tecnicamente mais acessíveis e de caráter mais pedagógico.  A ciranda apresentada aqui integra o conjunto de 16 "Cirandas" - obra mais desafiadora e de importante relevância no repertório brasileiro para piano do século XX - que mostram a incrível capacidade do compositor em sincretizar um vanguardismo estrangeiro ao popular brasileiro de forma tão genial e pessoal. Viva Villa!



Referências:


SALZMAN, Eric.Introdução à Música do século XX. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1970.
ANDERSON, Richard Paul. The Pianst’s Craft: Mastering the works of great composers. Maryland: Scarecrow Press Inc., 2012.
TINHORÃO, José Ramos. Música e Cultura Popular: vários escritos sobre um tema comum. 1. ed. São Paulo: Editora 34, 2017
KLEIN, Michael L. e REYLAND, Nicholas. Music and Narrative since 1900. U.S.: Indiana University Press, 2012.
ROSS, Alex. O Resto é Ruído: escutando o século XX. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
ROIG-FRANCOLÍ, Miguel A. Harmony in Context. New York: McGraw-Hill Education, 2002.
SCHOENBERG, Arnold. Fundamentos da Composição Musical. São Paulo:Editora da Universidade de São Paulo, 1996
SADIE, Stanley. New Grove Dictionary of Music & Musicians 2. ed.UK. Oxford University Press, 2004.
CARPEAUX, Otto Maria. Uma Nova História da Musica. Rio de Janeiro: Ediouro, 1999.


Postar um comentário

0 Comentários